Venho apresentar a minha primeira rubrica no blog "Conversas de café", que aborda temas da atualidade, daqueles que se costuma falar numa mesa de esplanada ou num café e que trata, basicamente, assuntos que me incomodam. Pode haver alturas em que apeteça falar deles em locais menos próprios por serem tão constrangedores e tão absurdos.
Questões relacionadas com o desemprego ou a má organização nas empresas empregadoras, serviços públicos com péssimo funcionamento, arquitetura duvidosa (por ex: escadas que vão dar a lugar nenhum).
"Experiência precisa-se"
Uma questão com a qual eu me debato imensas vezes, sendo no café, na esplanada ou até em casa é a experiência de trabalho e o que se entende por "experiência".
De certeza que toda a gente que já esteve desempregada já passou por situações semelhantes: ao fazerem a dita procura de emprego em sítios da internet ou de qualquer outro sítio deparam-se com o seguinte "experiência na área requerida" ou "experiência de x anos".
Ora bem, eu sou da opinião que é preciso existirem pessoas competentes a trabalhar nos devidos locais de trabalho e sou da opinião que a experiência realmente é um fator de grande importância, mas não da forma como nos atiram isso à cara, se é que me entendem.
Para as pessoas serem devidamente competentes, é necessário as empresas facultarem as devidas formações que são por lei obrigatórias. Se as empresas se rejeitam a fazê-lo porque "é perda de tempo" é porque não se acham realmente merecedoras de pessoas qualificadas. Os anos de experiência são, efetivamente, uma mais-valia mas se nunca derem oportunidades àqueles que nunca aprenderam como poderão um dia aprender?
Vejo inúmeras pessoas desempregadas por causa desta constante, porque muitas delas saem da escola sem saber na realidade o que é ter um emprego, sem saberem que ali será a preparação delas para a vida (profissional e não só). Eu não sabia - e sinceramente não sei - mas imaginava porque já tinha experienciado trabalhar enquanto estudava e se aconteceu foi porque estava num sítio em que descontos era palavra que não se usava. Aí ninguém queria saber da experiência porque trabalhar em limpezas não tem muito que se saiba, apenas um pouco de organização e de tempo para me adaptar era o que precisava para conhecer o trabalho que tinha em mãos.
Tive alguma dificuldade para arranjar trabalho em lojas e cafés, por exemplo, pois pediam anos de experiência e chegaram a rejeitar pessoas que, apesar de a terem, não achavam que tinham a suficiente. Muitas das vezes nestes sítios pedem-se experiências diferentes. A experiência que precisam é aquela em que a rapariga pode não saber tirar um café ou dobrar uma camisola mas tem todos os requisitos para aparecer na capa da Happy e isso sim, é importante para atender clientes e para que hajam cafés mais saborosos.
Esta realidade incomoda-me e é tema nas "Conversas de café" porque começo a observar que cada vez existem mais anúncios em que limitam a idade. E olhem que não é limitada para a idade da reforma, atenção! Quem tiver mais de 30 anos está sujeito a não arranjar trabalho tão facilmente porque por vezes os requisitos são "idade até 30 anos" e "experiência na área". Façamos contas: se contarmos com alguém que terminou a licenciatura ou o mestrado terá por volta de 23/24 anos. Ou mesmo que seja alguém que terminou o secundário apenas. Esta pessoa terá "poucos anos de vida" ativa e, no entanto, já lhe estão a impingir o seu término. É como se soubessem que ou a reforma se avizinha, ou estão a ficar velhos para a coisa. Ou então que serão apenas mais um na lista de desempregados.
Não quero com isto dizer que não concorde com a ideia de que a experiência é um bem necessário mas, sendo esta algo que se adquire ao longo de todo o percurso da nossa vida, deve ser realçada com base em formações e outras ações de formação e não tanto em "experiências passadas". Se nunca me tiver sido dada a hipótese de ganhar experiência, como poderei eu tê-la se nunca a consegui adquirir antes?
